Reconhecimento
Rapper Preta G vira nome de rua no Getúlio Vargas
Rua 4 passa a homenagear a artista que nasceu e cresceu na periferia de Pelotas; Daiane Alves morreu em 2008, aos 28 anos
Paulo Rossi -
A arte e a irreverência da rapper pelotense Daiane de Oliveira Alves, de 28 anos, não ficarão apenas marcadas em versos que faziam ecoar a voz da periferia. A história de Preta G agora será lembrada também em nome de rua no loteamento Getúlio Vargas, em Pelotas. A solenidade de descerramento da placa ocorreu na manhã ensolarada desta sexta-feira (27), como compromisso de que a trajetória desta mulher negra, pobre, com Ensino Fundamental incompleto e guerreira possa ser valorizada. Hoje e para as novas gerações.
Emocionada, a mãe de Preta G, Luza Maria Fagundes, 65, é enfática: "Aqui todo mundo tem luta". E afirma com o peso de quem criou oito filhos, praticamente sozinha, e com dinheiro curto. "E todo mundo tem valor", reitera. Ao conversar com o Diário Popular, admite que, muitas vezes, considerava que Daiane deveria ficar mais sossegada, dentro de casa. Um pedido que, em geral, não era acatado. Preta G tinha ânsia em defender os direitos das mulheres. Queria ver os oprimidos em condição de dignidade. E a música transformou-se em ferramenta não só para virar porta-voz destas muitas batalhas do cotidiano da cidade, como para vencer o uso pesado de drogas.
"A Preta representa uma história de superação. Era uma menina do bairro, que deve servir de referência a toda a nossa molecada", resume o presidente da Organização Não Governamental (ONG) Anjos e Querubins, Ben Hur Flores. Foi, justamente, ao lado da ONG que Preta G subiu pela última vez ao palco, em viagem ao Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, em abril de 2008. Já em Pelotas, poucos dias depois de distribuir autógrafos durante o evento em terras fluminenses, Daiane Alves passou mal e morreu em decorrência de uma aneurisma cerebral.
Ficaram a arte, o rap e a determinação a ser seguida. Nos palcos e fora deles. "Que o legado dela se eleve e sirva de exemplo e de incentivo para outros jovens", reforça a mãe, orgulhosa.
Para enaltecer as figuras locais
A cerimônia ocorreu na esquina das ruas 4 - agora Preta G - e 11, exatamente, no mesmo local onde - na infância - ela corria de pés descalços para buscar água em uma torneira que, vez por outra, servia de socorro aos moradores. Como rapper, foi também ali que Preta G se apresentou para os olhos atentos do público em janeiro de 2008 e ganhou o prêmio de melhor MC feminina. Na manhã desta sexta-feira, 27 de dezembro de 2019, a comunidade voltou a aplaudi-la.
"Ela nos deixa uma mensagem de luta, de busca pela emancipação. Uma mensagem de que é possível conquistar espaço desde que se tenha coragem", destaca a vereadora Daiane Dias (PSB) que, a pedido da Anjos e Querubins, apresentou o projeto de decreto legislativo para que Daiane de Oliveira Alves pudesse receber a homenagem e virar nome de rua.
Ao se pronunciar, a prefeita Paula Mascarenhas (PSDB) também enfatizou as lições deixadas por Preta Guerreira. "É uma mulher que se construiu através da arte e nos deixou mais um exemplo desta ferramenta poderosa da cultura e da arte para inclusão, para prevenção à violência e para criação de oportunidades de um futuro melhor".
Para os amigos e companheiros do Movimento Hip-hop, a manhã também foi marcada por emoção. Ao analisar o significado do reconhecimento, o DJ Vagner Borges falou na importância de a população se identificar com os personagens que dão nome às ruas. "Reconhecer a história da Preta é empoderar as pessoas que constroem a história de Pelotas". Cidadãos reais que dão vida à cidade.
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